O professor Maurício Andrades Paixão, do Instituto de Pesquisas Hidráulicas da UFRGS, teve uma atuação importante durante o resgate da população impactada com as enchentes. Em junho, ele recebeu o Prêmio Especial “Faz diferença” das Organizações Globo, em nome dos voluntários da tragédia climática no RS. Maurício é parceiro do Instituto Koinós e, nesta entrevista exclusiva para nosso site, fala sobre sua experiência com o voluntariado.
Instituto Koinós- O que te fez atuar como voluntário nas enchentes?
Maurício Andrades Paixão – Eu venho de uma família que morava em uma região periférica de Porto Alegre. A história dos meus pais é de muita luta e não podia ver toda aquela situação sem ajudar. No doutorado, estudei no Japão, na Universidade de Kyoto, onde passei por treinamento para diferentes tipos de desastres (inundações, deslizamentos, terremotos, etc). Minha pesquisa é em gestão de desastres e então usei toda a experiência adquirida nessa área. Tinha consciência e dimensão do que estava acontecendo e sabia que precisava atuar e contribuir para a sociedade.
IK- Como foi sua atuação? Em que frentes foi voluntário?
MAP– Comecei atuando na identificação de áreas suscetíveis a deslizamentos para o município de Nova Pádua. Fiz algumas simulações de emergência, caso o deslizamento ocorresse, pois o município já estava sem acesso e não tinha como ir até lá. Naquele primeiro final de semana mais caótico das enchentes, levantei cedo e fui para a ESEFID/UFRGS, onde fiquei trabalhando como voluntário na montagem do abrigo. Ao mesmo tempo, fui articulando com a universidade o uso dos barcos que o IPH possui e que são usados para ensino, pesquisa e extensão. Ao longo do sábado, fizemos essa articulação e já no domingo fomos para a água pela primeira vez. Atuamos principalmente na região do Humaitá/Navegantes, porque eram locais que estavam precisando de muito esforço e onde nossos barcos conseguiam navegar. Não tínhamos motor suficiente para cruzar o Guaíba com correnteza, então não conseguimos ir ajudar em Eldorado do Sul. Chegamos a utilizar três barcos simultaneamente, nos resgates. Fazíamos os resgates de dia e organizávamos as doações à noite. Eu consegui manter a calma mesmo nas situações mais complicadas graças ao treinamento que tive. Também procurei manter as emoções controladas para fazer tudo em segurança, para as pessoas que estavam sendo resgatadas e para a nossa segurança também.
IK- Como você avalia a premiação recebida?
MAP– Foi uma honra ter sido escolhido como representante dos voluntários. Mas essa premiação também traz muita responsabilidade, pois foram milhares de pessoas atuando em diferentes frentes e uma atividade não se sobrepõe à outra. Quem trabalhou no resgate não fez algo mais importante do que aquele que estava em um abrigo, acolhendo. A premiação não é minha, ela é dos voluntários. Fui um representante dessas pessoas todas. Só tenho a agradecer a todo mundo que atuou para amenizar a dor e o sofrimento das pessoas atingidas e me sinto muito orgulhoso de ver esse trabalho coletivo social, que envolveu e envolve muitas pessoas. Tivemos voluntários de diferentes locais, com diferentes sotaques, atuando de forma dedicada, abrindo mão do seu conforto, de estar com sua família em outros estados, correndo riscos para auxiliar a nossa população.
IK- Você tem outras ações de voluntariado? Fale de sua parceria com o Koinós.
MAP– A atuação voluntária é muito presente na minha família, primeiro junto com meus pais e depois sozinho e com amigos. Minha origem de reconhecer os problemas sociais sempre me fez atuar estar presente nas comunidades. Para mim, não foi um esforço. Fui parabenizado algumas vezes pela coragem. Mas não foi coragem, nem ato heroico – eu estava preparado e eu tinha esse dever. Como professor, eu desenvolvo algumas ações de extensão universitária e atuo bastante em um projeto de horticultura urbana, voltado para regiões periféricas. Montamos sistemas de irrigação para hortas comunitárias e o Instituto Koinós é um grande parceiro deste projeto.