Depois de percorrer os espaços atingidos na zona rural de 11 municípios no Vale do Taquari, as organizações e movimentos sociais envolvidos na Missão Sementes de Solidariedade iniciam nesta quarta-feira (4) as entregas de kits contendo sementes de milho, feijão, hortaliças, ramas de mandioca e mudas de árvores frutíferas. O economista, escritor e apresentador Eduardo Moreira vem até o território para acompanhar as atividades.
Inicialmente serão realizadas atividades em Muçum (na praça central da cidade) e em Arroio do Meio (na comunidade Forqueta). A data escolhida pelos organizadores para começar as entregas é simbólica: em 4 de outubro se relembra a vida e as ações de São Francisco de Assis.
“Sozinhos a gente não conseguiria seguir em frente, mas como temos recebido tanta solidariedade de tantas pessoas, sejam amigos, familiares, conhecidos ou até mesmo de muita gente que tem vindo de fora nos ajudar, nos apoiar nesses momentos difíceis, nós vamos recomeçar”, conta Emira Dutra, de Arroio do Meio, que teve seus plantios e quintal produtivo arrasados pela enxurrada e a casa totalmente alagada, tendo perda praticamente total de móveis e utensílios do uso familiar.
Abraçada pelo grupo de voluntários que fez a primeira entrega, ainda me modo simbólico, durante os dias de visita e cadastramento, dona Emira já havia inclusive plantado uma primeira árvore no seu quintal, antes mesmo da chegada da Missão Sementes de Solidaredade, para demarcar o recomeço. “Recebemos uma oportunidade de viver e continuar, é preciso renascer, colocar as sementes na terra e acreditar que a vida vai continuar, a vida vai vencer”, afirma.
Sementes para plantar recomeços
A agente da Comisão Pastoral da Terra Oldi Helena Jantsch, mais conhecida como Tiririca, explicou que as sementes e mudas alcançadas às famílias têm uma representação de recomeço. “Não são suficientes é claro para compensar tantas perdas e tantas dores sofridas, mas são alcançadas com muito amor, muito carinho, trazem consigo o trabalhos de outros agricultores e agricultoras que as produziram e colocaram à disposição para fossem trazidas até aqui e entregues como um símbolo de solidariedade, de esperança, de recomeços, de vida.”
Além das sementes Oldi deixou para dona Emira e demais beneficiados pela Missão também um pedido: que as sementes sejam plantadas e que, depois de produzir, um pouco da colheita seja compartilhada com outras famílias que as ações da missão não conseguiram alcançar.
A campanha de arrecadação recebeu centenas de doações ao longo das últimas duas semanas, viabilizando a aquisição de cerca de 5,5 toneladas de sementes de milho, 3 toneladas de sementes de feijão, 10 mil sachês de sementes de hortaliças, 1,1 mil feixes de ramas de mandioca, 5 mil mudas de árvores de árvores frutíferas, mil unidades de plantas medicinais, mil mudas de batata doce, 3 mil mudas de flores, entre outros itens que serão repassadas a cerca de 500 famílias atingidas que perderam seus plantios e infraestrutura produtiva.
Participam desta ação proposta pelo Instituto Cultural Padre Josimo (ICPJ) movimentos sociais como Movimento dos Pequenos agricultores e Pequenas Agricultoras (MPA), o Movimento dos Atingidos e Atingidas por Barragens (MAB) e a Comissão Pastoral da Terra (CPT). Também estão somadas à ação organizações como a Cáritas RS e Cáritas Brasileira, o serviço de Justiça, Paz e Integridade da Criação dos Franciscanos (JPIC) e o Instituto Koinós.
Celebrar a esperança e recomeçar
As atividades que estão sendo propostas para o primeiro dia de entregas dos kits da Missão Sementes de Solidariedade às famílias de pequenos agricultores e agricultoras beneficiadas estão carregadas da mística de resistência e simbolismo de renascimento.
O primeiro ato ocorre em Muçum, as 9h30, na praça da cidade que foi uma das mais atingidas pela enchente do começo de setembro. Ali será realizada a Celebração da Esperança, que deve ser conduzida pelo padre local, Alberto Tremea, seguida da distribuição dos kits e plantio de flores na cidade.
A segunda entrega vai acontecer em Arroio do Meio, na comunidade de Forqueta Baixa, logo após o meio dia, com realização de Almoço Solidário e ato da entrega dos kits.
Está confirmada a participação do economista, escritor e apresentador Eduardo Moreira, que desde o início das ações da Missão Sementes de Solidariedade se somou aos esforços de divulgação e mobilização. Moreira atualmente dirige o Instituto Conhecimento Liberta (ICL) e apresenta o programa de informação e análise de conjuntura chamado ICL Notícias, sendo um dos de maior audiência em formato web no país, veiculado todas as manhãs através do seu canal no Youtube.
“Temos essa missão de não apenas ir aos lugares atingidos, não apenas ajudar com as ações emergenciais e doações. Nesse sentido é muito importante levar sementes para quem pode plantar, apoiar essas pessoas que já tiveram perdas tão marcantes para não fiquem sujeitas também ao risco da fome. Nossa missão aqui é tentar organizar a ajuda, é estar ao lado também dos camponeses e camponesas atingidas”, expressou Moreira em uma das diversas manifestações públicas que fez em apoio ao projeto.
Sementes de camponeses para camponeses
As sementes são produzidas por famílias de agricultores camponeses associadas à Cooperfumos, sediada em Santa Cruz do Sul e voltada à produção e incentivo ao cultivo de alimentos orgânicos e agroecológicos, criando alternativas ao cultivo do tabaco que é marcante naquele território. “É bastante simbólico, são sementes produzidas por camponeses e agora levadas até outros camponeses que precisam recomeçar seus plantios”, aponta Miquéli Schiavon.
O beneficiamento do material encaminhado à Missão Sementes de Solidariedade ficou a cargo da Unidade de Produção de Sementes Crioulas Gilberto Tuhtenhagen, de Encruzilhada do Sul, que mantém a marca Origem Camponesa e beneficia, além do milho e do feijão, um grande portfólio de sementes crioulas e varietais, inclusive de forrageiras e adubos verdes.
Schiavon, que é dirigente vinculado ao MPA, destacou que a classe camponesa é caracterizada pela solidariedade ativa e em diversos momentos se mobiliza em apoio a companheiros e companheiras que se encontram em situação difícil. Como acontece agora com aqueles e aquelas localizados nos territórios atingidos no Vale do Taquari.
Também foram recebidas dezenas de doações de diretamente por pequenos agricultores, guardiões e guardiãs de sementes que cultivam a tradição de reproduzir suas próprias sementes e compartilhar com os companheiros e companheiras de classe. Todas as doações foram incorporadas à campanha e serão repassadas às famílias beneficiadas.
Doações ainda podem ser destinadas
Uma das maiores preocupações nos territórios atingidos pelo ciclone extratropical no começo de setembro, no Vale do Taquari, é que situações extremas como esta costumam despertar forte mobilização e repercussão nos primeiros dias e depois essas ações desaceleram, conforme a situação vai saindo dos destaques nos noticiários. No caso das cidades e espaços rurais atingidos pela enxurrada nas bacias dos Rios Taquari e Antas, o trabalho de reconstrução será prolongado e de difícil execução. Por isso as ações de solidariedade precisam ter continuidade nos diferentes segmentos em que vem acontecendo.
Neste sentido a Missão Sementes de Solidariedade segue recebendo doações, buscando ampliar o alcance de suas ações junto aos públicos localizados na zona rural, trabalhando especialmente com sementes para replantio das lavouras e roçados destruídos. Qualquer valor é importante e a doação pode ser encaminhada por PIX ou depósito bancário na conta da Cáritas:
– PIX: 33654419001007 (CNPJ)
– Depósito Bancário: Conta Corrente: 55.450-2. Agência 1248-3 (Banco do Brasil)